sexta-feira, 6 de março de 2020

MARXISMO EM EDUCAÇÃO








HELFAS SAMUEL-Licenciado em Ensino Básico com Habilitações em Supervisão e Inspecção Escolar-Universidade Pedagógica-Gaza
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MARXISMO EM EDUCAÇÃO


/FREELANCER DE CONTEUDO/
2.O marxismo em Educação
2.1.Escola e mobilidade social
Em conformidade com o marxismo, a massificação do ensino não produziu todos os efeitos positivos que se poderiam esperar em termos de democratização e portanto de mobilidade social. Foram apresentados dois grandes tipos de explicações para compreender o relativo insucesso da movimentação social, resultante de uma educação das massas.
Pierre Bourdieu, citado por Jean Étiene et al (2008:516), pôs em evidência um modelo explicativo em termos de reprodução social. A estrutura de classes das sociedades modernas baseia-se em dois grandes recursos analisados em termos de capitais; os capitais económicos (patrimónios e rendimentos), e os capitais culturais (diplomas). O sistema educativo participa na reprodução da estrutura de classes segundo dois processos sociais: o primeiro, ela valoriza sobretudo a cultura própria das classes dominantes. Uma vez que o corpo docente pertence, de acordo com Bourdieu à fracção dominante. Uma pertencendo à classe dominante, o corpo docente, selecciona principalmente os alunos a partir do controlo da linguagem oral e escrita.
Este controlo, no sentido radical do termo, está ligado a uma socialização que ultrapassa o quadro da escola e repousa essencialmente sobre a família. Bourdieu faz também referência à teoria de dominação simbólica, que assenta essencialmente na ideologia do "dom”, o sucesso escolar assentava de facto em processos sociais discriminatórios. Os filhos das classes dominadas, seriam assim duplamente excluídos, exteriormente, pelo insucesso escolar, e interiormente, pela consciência de que este insucesso resulta da sua falta de "dom" ou da sua falta de "capacidades". Os limites sociais transformaram-se assim em limites intelectuais individuais, no sentido em que se pode dizer de um aluno que ele é "limitado" (Jean Étiene e tal, 2008:516).

2.2.Escola como campo de legitimação da dominação social
De acordo com Jean Étiene e tal (2008:43), citando P. Bourdieu, em França, a escola foi tida como uma instituição (um campo) que participa de forma decisiva na reprodução de relações sociais de dominação. A escola contribui para a reprodução e acumulação do capital cultural nas crianças das fracções da classe dominante e ao desapossar do capital cultural, especialmente nas crianças dos camponeses, que perdem os seus valores.
Bourdieu e Jean Passeron, criticam aquilo que chamam de um mito: as competências escolares inatas. De facto, o sucesso escolar tenderia para a homologia entre os "habitus" dos docentes e das crianças que dispõem de um forte capital cultural. Toda a pedagogia exercia uma forte "violência simbólica", pelo menos sobre os alunos das classes populares, ao mesmo tempo que ela reproduzia a estrutura de classes, enquanto os valores culturais legítimos inculcados relevariam de um arbítrio cultural. Para estes a escola não seria "libertadora".
A escola foi também usada como um campo de defesa dos ideais universais, dos midia, que desvirtuariam.
3.Violência Simbólica e Capital Cultural.

Para Bourdieu e Passeron (1992), citados por Jean et al (2008) “a escola seria a principal estrutura objectiva que molda mentalidades e comportamentos.
Portanto, dentro desta visão, a escolarização condena aqueles que carecem de capital cultural ao fracasso social.
Embora possa não existir sincronia entre o mercado de trabalho e o processo educacional, o capital cultural é semelhante a uma moeda de troca, por meio do qual o indivíduo encontra o seu sucesso ou fracasso escolar.

Assim, o capital cultural funcionaria como uma moeda de troca para que as pessoas comprem uma posição na estrutura social.

A sociedade seria hierarquizada conforme o sucesso ou fracasso escolar, determinado pelo capital cultural.

Estudando a sociedade francesa depois da 2º. Guerra Mundial, Bourdieu e Passeron chegaram à conclusão de que adquirir capital cultural tornou-se importante para a classe média.

O capital cultural foi convertido em meio de acesso a boas posições sociais, facto que explica os investimentos da categoria em educação.

Ao mesmo tempo, para fazer frente aos investimentos em capital cultural pela classe média, a elite também investe em educação para manter seu status, já que o nível de escolaridade também confere status.”

4.A visao geral de Bowles, Bourdieu, Gints
As afirmações de Bourdieu e Passeron (1992) partem, em grande medida, da tematização althusseriana. Vale dizer, questionam a aparente neutralidade do funcionamento do sistema educativo. O objectivo de ambos é analisar os mecanismos pelos quais a instituição educativa “reproduz” a cultura dominante, o que acaba por contribuir para o reforço e manutenção das estruturas sociais vigentes. É neste contexto que formulam a teoria da “violência simbólica”.
Bowles e Gintis, em seu conhecido livro Schooling in capitalist America (1976), citados por Costa (2004), elaboram a chamada “teoria da correspondência” entre o sistema educativo e o sistema económico capitalista. Segundo os autores, os principais aspectos da organização educativa seriam cópias das relações de dominação e subordinação existentes na esfera económica. Assim, do mesmo modo que na empresa capitalista, também na escola as relações sociais são regidas por uma hierarquia de autoridade e controle. Como resultado, a experiência vivida pelos estudantes na escola contribui para o desenvolvimento de traços de personalidade e formas de comportamento apropriados para a posição que, no futuro, ocuparão na hierarquia da divisão capitalista do trabalho. Com isso, a integração dos estudantes no interior da ordem capitalista vigente seria bem facilitada.
Em suma, Bowles e Gintis enfatizam a importância da escola na formação dos diferentes tipos de personalidade que correspondam às necessidades das relações de trabalho no interior do sistema capitalista. Por via de consequência, a escola não só atribui aos indivíduos uma série relativamente fixa de posições sociais – atribuição que é determinada por forças económicas e políticas –, mas o próprio processo educativo, o currículo formal e oculto, socializa as pessoas, fazendo-as, desse modo, aceitar como legítimos os papéis limitados que cumprem na sociedade. Enfim, se o sistema educativo não é o produtor das desigualdades sociais, tem, no entanto, a franca capacidade de perpetuá-las.
De forma geral, os teóricos da reprodução postulam que a estabilidade ideológica e social depende da internalização, por via da escola, de princípios e normas que regem a ordem social existente.

5.As ideias de Bowles e Gintis.
O interesse de Bowles e Gintis pelo papel da escola no sucesso profissional e social dos indivíduos nasceu a partir da guerra do Vietname.
Quando a imensa maioria dos alistados pertencia à etnia negra e latina, fato que conduziu os autores a investigar a realidade das escolas de periferia nos Estados Unidos da América, de onde os alistados eram das classes desfarecidas.
Estudando este conceito, Bowles e Gintis chegaram à conclusão que o sistema capitalista conduziu a hierarquização social. Em conformidade com Bowles e Gintis, em seu conhecido livro Schooling in capitalist America (1976), citado por Costa (2004) “A escola ensina pontualidade e organização, características necessárias ao funcionamento das estruturas capitalistas, servindo ao reprodutivismo do sistema.
A escolarização serviu para alienar e produzir pessoas passivas, criando personalidades adequadas às necessidades do mundo do trabalho.
Pensando no fato da sociedade ser estratificada, os autores concluíram que a escola termina criando padrões diferenciados de socialização para preencher colocações sociais.
Existiriam várias escolas, com padrões diferenciados de ensino, cada uma destinada a formar um tipo de mão-de-obra diferente.
As pessoas seriam educadas de acordo com funções e papeis sociais que vedem ocupar depois de formados, compondo a chamada sociedade da meritocracia.
O sistema capitalista se encarregaria de convencer os educandos que a escola selecciona para o mundo do trabalho, adoptando como critério o mérito individual. Na realidade um falso critério utilizado para alienar.
Os autores defenderam a ideia de que o mérito possui critérios falsamente objectivos, como Q.I. e notas, servindo apenas a legitimação da ordem, pois na realidade o principal factor que conduz ao sucesso profissional é a classe social.
Bowles e Gintis não encontraram correspondência entre Q.I. e notas, comprovando isto estatisticamente.
Por outro lado, provaram que também não existe relação entre Q.I e notas com o sucesso profissional.
Demonstraram que existia grande número de indivíduos com alto Q.I. e bom desempenho escolar que tinham fracassado profissionalmente.
Inversamente, os indivíduos bem sucedidos economicamente e socialmente não possuíam, necessariamente, um alto Q.I. ou tinham sido bons alunos na escola.
 Esta visão conduziu a chamada teoria da correspondência, segundo a qual alguns grupos são preparados para comandar a superstrutura, enquanto outras categorias sociais devem permanecer na infra-estrutura.
A escola seria o grande filtro, socializando os indivíduos de modo diferenciado.
Em uma mesma sala de aula, o tratamento diferenciada do professor produz a elite e o proletariado.
O professor, sem perceber, sendo também produto do sistema, estratifica a sala de aula e, com isto, contribui para reproduzir a ordem capitalista”.



6.Gramsci: o trabalho como princípio educativo
Em conformidade com Paulo Meksenas (2005), “no pensamento gramsciano a cultura tem um papel de destaque. Mas para pensar a relação entre educação e cultura faz-se necessário conceituar Sociedade Civil, conceito chave para se chegar à escola.
Segundo Gramsci, a Sociedade Civil é por excelência, o campo da Hegemonia, ou seja, do consenso”.
E onde entra a escola e a educação?
A escola como “aparelho privado de hegemonia”, dentro, portanto da sociedade civil faz parte da superstrutura. Outra discussão dentro do Marxismo. Segundo Althusser (1980), citado por Paulo Meksenas (2005), que fez uma leitura crítica de Gramsci, “a escola faria parte dos Aparelhos Ideológicos do Estado (Aparelhos Ideológicos do Estado). Via o Estado como um representante da burguesia, cuja finalidade - através de seus Aparelhos Ideológicos do Estado - era a de reproduzir a sociedade capitalista.
A escola é reprodutora dos valores, dos ideais, da moral de classe dominante. Apesar disso, Althusser percebe na escola não só um alvo, mas também o local da luta de classes”. Entretanto a visão corrente do estruturalismo de Althusser ressalta apenas o papel reprodutivista da escola (e de todos os Aparelhos Ideológicos do Estado), muito porque o objectivo de seu estudo é exactamente a reprodução da ideologia.
Gramsci diferentemente de Althusser vê na escola não só um local de lutas, mas um campo altamente propício e essencial para a transformação. Não nega o carácter reprodutivista da escola, mas, mais do que isto vê nesse processo contradições.
Segundo Gramsci (1982:3) “Ao mesmo tempo em que reproduz essa sociedade, a escola está instrumentalizando a classe subalterna para que ela possa superá-la”. A escola propiciaria o acesso à cultura e a questão da possibilidade de cada cidadão se tornar governante, aspecto que para Gramsci define a escola. Daí a importância dos Intelectuais.


8.Bibliografia
BRAGA M., Teorias Sociológica. Os fundadores e os Clássicos, 5ª edição, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.
Étiene Jean e tal, Dicionário de Sociologia, Lisboa, Plátano Editores, 2008.
COSTA, Maria Cristina,  Sociologia: introdução a ciência da educação.  São Paulo: Moderna, 2004.
MEKSENAS, Paulo.  Sociologia da educação: introdução ao estudo da escola no processo de transformação social.  São Paulo: Loyola, 2005.

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