/FREELANCER DE CONTEUDO/
2.O
marxismo em Educação
2.1.Escola
e mobilidade social
Em conformidade com o marxismo, a massificação do ensino
não produziu todos os efeitos positivos que se poderiam esperar em termos de
democratização e portanto de mobilidade social. Foram apresentados dois grandes
tipos de explicações para compreender o relativo insucesso da movimentação
social, resultante de uma educação das massas.
Pierre Bourdieu, citado por Jean Étiene et al (2008:516), pôs em
evidência um modelo explicativo em termos de reprodução social. A estrutura de
classes das sociedades modernas baseia-se em dois grandes recursos analisados
em termos de capitais; os capitais económicos (patrimónios e rendimentos), e os
capitais culturais (diplomas). O sistema educativo participa na reprodução da estrutura de classes
segundo dois processos sociais: o primeiro, ela valoriza sobretudo a cultura
própria das classes dominantes. Uma vez que o corpo docente pertence, de acordo
com Bourdieu à fracção dominante. Uma pertencendo à classe dominante, o corpo
docente, selecciona principalmente os alunos a partir do controlo da linguagem
oral e escrita.
Este controlo, no sentido radical do termo, está ligado a
uma socialização que ultrapassa o quadro da escola e repousa essencialmente
sobre a família. Bourdieu
faz também referência à teoria de dominação simbólica, que assenta
essencialmente na ideologia do "dom”, o sucesso escolar assentava de facto
em processos sociais discriminatórios. Os filhos das classes dominadas, seriam
assim duplamente excluídos, exteriormente, pelo insucesso escolar, e
interiormente, pela consciência de que este insucesso resulta da sua falta de
"dom" ou da sua falta de "capacidades". Os limites sociais
transformaram-se assim em limites intelectuais individuais, no sentido em que
se pode dizer de um aluno que ele é "limitado" (Jean Étiene e tal,
2008:516).
2.2.Escola
como campo de legitimação da dominação social
De acordo com Jean Étiene e tal (2008:43), citando P.
Bourdieu, em França, a
escola foi tida como uma instituição (um campo) que participa de forma decisiva
na reprodução de relações sociais de dominação. A escola contribui para a reprodução e acumulação
do capital cultural nas crianças das fracções da classe dominante e ao
desapossar do capital cultural, especialmente nas crianças dos camponeses, que
perdem os seus valores.
Bourdieu e Jean Passeron, criticam aquilo que chamam de
um mito: as competências escolares inatas. De facto, o sucesso escolar tenderia
para a homologia entre os "habitus" dos docentes e das crianças que
dispõem de um forte capital cultural. Toda a pedagogia exercia uma forte "violência
simbólica", pelo menos sobre os alunos das classes populares, ao mesmo
tempo que ela reproduzia a estrutura de classes, enquanto os valores culturais
legítimos inculcados relevariam de um arbítrio cultural. Para estes a escola
não seria "libertadora".
A escola foi também usada como um campo de defesa dos
ideais universais, dos midia, que desvirtuariam.
3.Violência Simbólica e Capital Cultural.
Para Bourdieu e Passeron (1992), citados por Jean et al
(2008) “a escola seria a principal estrutura objectiva que molda mentalidades e
comportamentos.
Portanto, dentro
desta visão, a escolarização condena aqueles que carecem de capital cultural ao
fracasso social.
Embora possa não existir sincronia entre o mercado de
trabalho e o processo educacional, o capital cultural é semelhante a uma moeda
de troca, por meio do qual o indivíduo encontra o seu sucesso ou fracasso
escolar.
Assim, o capital
cultural funcionaria como uma moeda de troca para que as pessoas comprem uma
posição na estrutura social.
A sociedade seria
hierarquizada conforme o sucesso ou fracasso escolar, determinado pelo capital
cultural.
Estudando a sociedade francesa depois da 2º. Guerra
Mundial, Bourdieu e Passeron chegaram à conclusão de que adquirir capital
cultural tornou-se importante para a classe média.
O capital cultural foi convertido em meio de acesso a
boas posições sociais, facto que explica os investimentos da categoria em
educação.
Ao mesmo tempo,
para fazer frente aos investimentos em capital cultural pela classe média, a
elite também investe em educação para manter seu status, já que o nível de
escolaridade também confere status.”
4.A
visao geral de Bowles, Bourdieu, Gints
As afirmações de Bourdieu
e Passeron (1992) partem, em grande medida, da tematização
althusseriana. Vale dizer, questionam a aparente neutralidade do funcionamento
do sistema educativo. O
objectivo de ambos é analisar os mecanismos pelos quais a instituição educativa
“reproduz” a cultura dominante, o que acaba por contribuir para o reforço e
manutenção das estruturas sociais vigentes. É neste contexto que formulam a
teoria da “violência simbólica”.
Bowles e Gintis, em seu conhecido livro Schooling in capitalist America (1976),
citados por Costa (2004), elaboram
a chamada “teoria da correspondência” entre o sistema educativo e o sistema
económico capitalista. Segundo os autores, os principais aspectos da
organização educativa seriam cópias das relações de dominação e subordinação
existentes na esfera económica. Assim, do mesmo modo que na empresa capitalista, também
na escola as relações sociais são regidas por uma hierarquia de autoridade e
controle. Como
resultado, a experiência vivida pelos estudantes na escola contribui para o
desenvolvimento de traços de personalidade e formas de comportamento
apropriados para a posição que, no futuro, ocuparão na hierarquia da divisão
capitalista do trabalho. Com isso, a integração dos estudantes no interior da
ordem capitalista vigente seria bem facilitada.
Em suma, Bowles e Gintis
enfatizam a importância da escola na formação dos diferentes tipos de
personalidade que correspondam às necessidades das relações de trabalho no
interior do sistema capitalista. Por via de consequência, a escola não só
atribui aos indivíduos uma série relativamente fixa de posições sociais –
atribuição que é determinada por forças económicas e políticas –, mas o próprio
processo educativo, o currículo formal e oculto, socializa as pessoas,
fazendo-as, desse modo, aceitar como legítimos os papéis limitados que cumprem
na sociedade. Enfim, se o sistema educativo não é o produtor das desigualdades
sociais, tem, no entanto, a franca capacidade de perpetuá-las.
De forma geral, os teóricos
da reprodução postulam que a estabilidade ideológica e social depende da
internalização, por via da escola, de princípios e normas que regem a ordem
social existente.
5.As
ideias de Bowles e Gintis.
O interesse de Bowles e Gintis pelo papel da escola no
sucesso profissional e social dos indivíduos nasceu a partir da guerra do
Vietname.
Quando a imensa maioria dos alistados pertencia à etnia
negra e latina, fato que conduziu os autores a investigar a realidade das
escolas de periferia nos Estados Unidos da América, de onde os alistados eram das
classes desfarecidas.
Estudando este conceito, Bowles e Gintis chegaram à conclusão que o sistema
capitalista conduziu a hierarquização social. Em conformidade com Bowles e Gintis, em seu conhecido livro Schooling in
capitalist America (1976), citado por Costa (2004) “A escola ensina pontualidade e
organização, características necessárias ao funcionamento das estruturas
capitalistas, servindo ao reprodutivismo do sistema.
A escolarização serviu
para alienar e produzir pessoas passivas, criando personalidades adequadas às
necessidades do mundo do trabalho.
Pensando no fato
da sociedade ser estratificada, os autores concluíram que a escola termina
criando padrões diferenciados de socialização para preencher colocações
sociais.
Existiriam várias
escolas, com padrões diferenciados de ensino, cada uma destinada a formar um
tipo de mão-de-obra diferente.
As pessoas seriam
educadas de acordo com funções e papeis sociais que vedem ocupar depois de formados, compondo a chamada sociedade da meritocracia.
O sistema
capitalista se encarregaria de convencer os educandos que a escola selecciona
para o mundo do trabalho, adoptando como critério o mérito individual. Na
realidade um falso critério utilizado para alienar.
Os autores
defenderam a ideia de que o mérito possui critérios falsamente objectivos, como
Q.I. e notas, servindo apenas a legitimação da ordem, pois na realidade o
principal factor que conduz ao sucesso profissional é a classe social.
Bowles e Gintis não encontraram correspondência entre
Q.I. e notas, comprovando isto estatisticamente.
Por outro lado, provaram que também não existe relação
entre Q.I e notas com o sucesso profissional.
Demonstraram que existia grande número de indivíduos com
alto Q.I. e bom desempenho escolar que tinham fracassado profissionalmente.
Inversamente, os indivíduos bem sucedidos economicamente
e socialmente não possuíam, necessariamente, um alto Q.I. ou tinham sido bons
alunos na escola.
Esta
visão conduziu a chamada teoria da correspondência, segundo a qual alguns
grupos são preparados para comandar a superstrutura, enquanto outras categorias
sociais devem permanecer na infra-estrutura.
A escola seria o
grande filtro, socializando os indivíduos de modo diferenciado.
Em uma mesma sala
de aula, o tratamento diferenciada do professor produz a elite e o
proletariado.
O professor, sem
perceber, sendo também produto do sistema, estratifica a sala de aula e, com
isto, contribui para reproduzir a ordem capitalista”.
6.Gramsci: o trabalho como princípio educativo
Em conformidade com Paulo Meksenas (2005), “no pensamento
gramsciano a cultura tem um papel de destaque. Mas para pensar a relação entre
educação e cultura faz-se necessário conceituar Sociedade Civil, conceito chave
para se chegar à escola.
Segundo Gramsci, a Sociedade Civil é por excelência, o
campo da Hegemonia, ou seja, do consenso”.
E onde entra a escola e a educação?
A escola como “aparelho privado de hegemonia”, dentro,
portanto da sociedade civil faz parte da superstrutura. Outra discussão dentro
do Marxismo. Segundo Althusser (1980), citado por Paulo Meksenas (2005), que
fez uma leitura crítica de Gramsci, “a escola faria parte dos Aparelhos
Ideológicos do Estado (Aparelhos Ideológicos do Estado). Via o Estado como um
representante da burguesia, cuja finalidade - através de seus Aparelhos
Ideológicos do Estado - era a de reproduzir a sociedade capitalista.
A escola é reprodutora dos valores, dos ideais, da moral
de classe dominante. Apesar disso, Althusser percebe na escola não só um alvo,
mas também o local da luta de classes”. Entretanto a visão corrente do
estruturalismo de Althusser ressalta apenas o papel reprodutivista da escola (e
de todos os Aparelhos Ideológicos do Estado), muito porque o objectivo de seu
estudo é exactamente a reprodução da ideologia.
Gramsci diferentemente de Althusser vê na escola não só
um local de lutas, mas um campo altamente propício e essencial para a
transformação. Não nega o carácter reprodutivista da escola, mas, mais do que
isto vê nesse processo contradições.
Segundo Gramsci (1982:3) “Ao mesmo tempo em que reproduz
essa sociedade, a escola está instrumentalizando a classe subalterna para que
ela possa superá-la”. A escola propiciaria o acesso à cultura e a questão da
possibilidade de cada cidadão se tornar governante, aspecto que para Gramsci
define a escola. Daí a importância dos Intelectuais.
8.Bibliografia
BRAGA M., Teorias
Sociológica. Os fundadores e os Clássicos, 5ª edição, Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 2008.
Étiene Jean e tal, Dicionário de Sociologia, Lisboa, Plátano Editores, 2008.
COSTA, Maria Cristina, Sociologia: introdução a
ciência da educação. São Paulo: Moderna, 2004.
MEKSENAS, Paulo. Sociologia da educação:
introdução ao estudo da escola no processo de transformação social. São
Paulo: Loyola, 2005.
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